Análise do tempo decorrido entre detecção, diagnóstico e início do tratamento do câncer de mama em mulheres atendidas em uma Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) do Norte do Estado de Minas Gerais

Abstract

O câncer de mama é um importante problema de saúde pública e constitui a forma de câncer com maior ocorrência no mundo. O atraso no início do tratamento do câncer de mama pode propiciar estádio mais avançado da doença, resultando em tratamento mais agressivo, com pior prognóstico e aumento da mortalidade. Este estudo teve como objetivo analisar o tempo decorrido entre detecção, diagnóstico e início do tratamento em pacientes com câncer de mama atendidas em uma Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (UNACON) no norte de Minas Gerais, identificando os fatores associados ao atraso para início do tratamento. Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, com análise de dados secundários. Foram analisados 300 prontuários de pacientes tratadas por câncer de mama entre janeiro de 2016 e dezembro de 2018. Os intervalos de tempo estudados foram o intervalo global, definido como o tempo decorrido entre a detecção do primeiro sinal/sintoma ou alteração mamográfica e o início do tratamento, subdividido nos intervalos da paciente e do sistema de saúde, e no tempo até o diagnóstico e tratamento. Foram analisados os fatores que influenciaram o atraso no intervalo global acima de 90 dias. Para verificar a associação das variáveis com o intervalo global, foi utilizado o modelo de regressão logística, admitindose para o modelo final apenas as variáveis associadas até nível de significância de 5%. A média de idade das mulheres foi de 54,7 anos, com predomínio de mulheres não brancas (80,0%), com baixa escolaridade (41,0%), tendo o serviço público como acesso aos cuidados de saúde (47,0%), e que foram diagnosticadas a partir de alterações clínicas (74,3%). A mediana do intervalo global foi de 179,5 dias, sendo que 76,0% das mulheres apresentaram atraso para iniciar o tratamento. As chances de atraso no intervalo global foram maiores em pacientes com baixa escolaridade (p=0,027), com acesso ao serviço oncológico público (p<0,001), com diagnóstico realizado a partir de alterações clínicas (p=0,013) e com cor de pele parda e preta (p=0,048). Houve um importante atraso no início do tratamento de pacientes com câncer de mama no norte de Minas Gerais. As variáveis associadas ao atraso destacam, sobretudo, as desigualdades sociais. Sugere-se, portanto, implementação de estratégias mais equânimes de atenção à saúde da mulher, com realização de educação em saúde da população, rastreamento mamográfico eficaz e criteriosa organização e aprimoramento dos serviços de assistência à saúde, a fim de proporcionar o diagnóstico precoce e o tratamento em tempo oportuno.